O mês que tinha decorrido, para Selene, tinha sido o pior e uma fonte constante de seu estresse. O sumiço de Laura e o fato dela não responder suas cartas, a incomodava. Sua coruja devia saber de cor e salteado o caminho para a residência dos Winchester, já que tinha enviado cartas e bilhetes para a jovem bruxa, deixando um suspiro escapar, tentando não sentir a raiva ou a frustração daquele abandono repentino. Era acostumada com Laura lhe fazendo companhia na comunal secreta, até o dia em que ela não foi, depois de terem combinado se encontrarem para debater os planos para um dos furtos que a Habsburt planejava, que ela não tinha realizado. A sensação de que devia fazer aquilo com Laura a impediu de seguir em frente. E o quadro habitual com seus planos, num acesso de raiva e frustração, ela tinha o quebrado, mas acabou o restaurando. Tinham planos cruciais ali.

O anúncio das novas diretrizes do novo diretor na ausência da madrastra de Laura não lhe interessou e se tivesse qualquer coisa relevante para si, Isabella lhe diria. A Habsburg encontrava-se no sexto andar, com sua bengala apoiada em uma mesa que tinha aparecido na sala secreta onde se encontrava naquele momento. Um suspiro cansado escapou por seus lábios, enquanto ela buscava entender o porquê a Winchester não tinha respondido suas cartas. Falta de tempo? Ocupada? Nos primeiros dias, lhe era uma desculpa pertinente, mas com o passar dos dias, parecia que ela estava a ignorando de propósito e ela queria poder fazer o mesmo, mas não conseguia. Uma parte de si não lhe permitia e isso a fazia se sentir pior. Selene então respirou fundo, observando as cópias de seus planos que carregava consigo e seu diário. Nunca planejava suas atividades criminais em um lugar fixo e específico. Ela preferia variar e esconder as evidências.

— Maldita hora para a Watsgrint decidir parir, vai ferrar todos os meus planos esse Zarek na direção. — A jovem resmungou, entediada. Claro que Selene sabia que isso não era escolha da mulher, ela não escolhia quando o filho nasceria. Mas o timing era um dos piores.

Quando a porta da sala vazia se abriu, uma sensação familiar percorreu sua espinha. Laura...  Selene não queria olhar para trás e estar errada, mas quase nunca ela errava, não quando se tratava da Winchester. As mãos trêmulas encobertas pelas luvas não eram visíveis para terceiros e ela conseguia disfarçar. E céus, como ela estava nervosa. A jovem respirou fundo, contando até dez, antes de finalmente se virar, observando a figura de Laura. Ela tinha mesmo voltado? Não era alucinação? No fundo, ela rezava para que não fosse e que a grifina tivesse realmente voltado. O coração acelerado e os ânimos ativos eram difíceis de esconder, no entanto... A frustração era maior. Selene lembrava-se de todas as cartas não respondidas, então fingir que não tinha sido afetada pela presença da mesma e que não tinha sentido sua falta, estava fácil.

— Oi, Laura. Você finalmente voltou. Resolveu o que precisava? Afinal, você deve ter estado muito ocupada para não responder cartas. — Selene não olhava a Winchester e sequer se importou se suas palavras a feriram ou a magoariam, que Laura sentisse um pouco da ferida e da mágoa que ela sentia.  

— Espero que ao menos, você as tenha guardado. É um desperdicio de papel e você sabe o quão sou apaixonada pelo meio ambiente. — A alemã ironizou, enquanto observava os planos de atividades ilegais que tinha organizado ao longo do mês em que Laura encontrava-se longe.

Selene não admitiria nunca: ela sentia falta de Laura, mais do que ela costumava sentir normalmente quando alguém que ela tolerava, se ausentava por mais de seis meses ou semanas. Se ela falasse com Aurora daquilo, sua irmã diria que estava apaixonada, mas... Aquilo não fazia sentido, fazia? Parecia irreal, como ela podia ter se apaixonado por Laura e sequer se dado conta? Ela era esperta demais para que aquilo acontecesse, não, não, era apenas um delírio de sua mente e ela estava apenas preocupada com a Winchester que tinha sumido e sequer respondido suas cartas. Sim, é isso, nada demais, não pode ser nada mais que isso. Ela garantia para si mesmo, respirando profundamente enquanto observava de maneira sorrateira, as feições da grifina tentando prestar atenção em cada uma de suas feições. Notava coisas que parecia que não notava antes como...

Como... Ela era bonita.

— Não, ele não apareceu e nem mesmo Kiara tem notícias dele. — Selene agradeceu mentalmente por Laura ter mencionado os planos que tinham, ela já estava se constrangindo demais admirando Laura como se fosse a coisa mais bela que tivesse visto em vida. Mas ela é... Por mais que tentasse desviar qualquer pensamento sobre a bruxa a sua frente para o canto mais fundo da sua mente, sempre acabava voltando.

O que Selene tinha? A pergunta acabou fazendo a jovem alemã rir e era muito difícil para conseguir esse feito. Os olhos da Habsburg voltaram-se para a Winchester em um misto de raiva, mágoa, decepção e o que ela esperava que Laura não notasse: amor, medo, preocupação, desespero, insuficiência. Tinha medo de algo ter acontecido com ela e nao ter estado com ela quando precisava, sentia-se insuficiente para ela, que não merecia a companhia de Laura Winchester, ela merecia coisa muito melhor só que uma filha de rico que rouba e comete crimes pelo simples prazer de cometer atos ilícitos e com aversão ao toque, que não permitia que segurasse sua mão por mais de cinco minutos sem a sensação de água subir aos seus pés e a vontade de vomitar a assolasse.

Mas claro, Laura nunca saberia disso.

— O que eu tenho, Laura? Eu estou irritada, decepcionada. Porque você é quem mais confio nessa maldita escola, você sabe todos os meus segredos, todos os meus planos... E quando você sumiu, não me avisou e muito menos respondeu minhas cartas... Eu me senti traída, eu senti que toda confiança que depositei em você foi em vão, porque você não confiou em mim para fazer o mesmo. — Selene murmurou, num timbre frio e indiferente. — Eu não posso ter um elo fraco em meus planos, Laura. — Concluiu, suspirando.

Selene sabiá bem que Laura era tudo, menos sua fraqueza, mas claro que ela tinha de ter falado antes de pensar. E bom, falado merda.