Escadarias da Torre

Passara os últimos dias me arrastando por Hogwarts, praticamente uma sombra do que já fora, perder Laura foi um baque que eu não esperava e eu sabia que a culpa era minha. Se não tivesse sido covarde, medroso, se tivesse contado para ela tudo desde o início, não estaríamos naquela situação, mas as coisas não haviam sido assim e ela descobriu da pior maneira, junto de toda a escola, através de uma fofoca espalhada por Pirraça.

Soltei um suspiro pesado e me levantei, precisava reagir, ficar deprimido não resolveria muito, não resolveria nada, precisava encontrar Laura, conversar com ela, explicar tudo, com isso, talvez, somente talvez, ela me perdoasse, mesmo que as chances fossem pequenas, era melhor do que a alternativa, perdê-la para sempre.

Respirei fundo e saí da cama, deixando o dormitório da Sonserina, na esperança de encontrar Laura pelos corredores do castelo. Minha busca era uma mistura de esperança e desespero, cada passo pesando como chumbo, os retratos nas paredes observando silenciosamente minha agonia, minha mente estava em tumulto, revivendo cada momento que compartilhamos juntos, cada risada, cada olhar, cada toque. Como eu poderia ter sido tão tolo, tão cego para não perceber o que estava em jogo?

Ao dobrar um corredor avistei Laura conversando com Nicholas, meu coração deu um salto, uma onda de apreensão me dominou, comecei a me aproximar lentamente, observando a interação entre Laura e Nicholas com um misto de confusão e desconforto, o sorriso presunçoso de Nicholas enquanto segurava a mão de Laura me irritando profundamente.

O que vocês tanto sussurram aqui? Minha voz cortou o ar, interrompendo a conversa entre eles, meus olhos se estreitaram com desconfiança enquanto observava a proximidade entre os dois, Nicholas se adiantou, sua mão envolvendo a de Laura de uma maneira que fez um arrepio de raiva percorrer minha espinha, respondendo com uma calça irritante, algo sobre resolverem os detalhes de um encontro enquanto seus olhos brilhavam com malícia.

Senti o sangue ferver em minhas veias enquanto observava a troca de olhares entre Laura e Nicholas. E como Laura está solteira agora... Nicholas continuou, lançando um olhar sugestivo em direção a Laura, que parecia surpresa com a audácia do comentário, senti um aperto no peito ao ver o sorriso falso de Laura enquanto ela concordava com as palavras de Nicholas, mas me forcei a manter a compostura, mesmo que  por dentro fervesse de ciúmes e frustração.

Eu que não perderia a oportunidade em ter uma chance com ela. Nicholas continuou, seu olhar fixo em Laura antes de piscar para ela, como se estivesse enviando uma mensagem secreta, contive um rosnado de irritação, meus punhos se cerrando com força, cada palavra dia por Nicholas com um sorriso presunçoso nos lábios me fazia sentir uma onda de raiva.

Ainda assim mantive a calma, queria conversar com Laura, resolver aquela situação, por isso queria manter o controle sobre minhas emoções, mas quando Laura começou a provocar também fechei a cara instantâneamente. Laura... Minha voz saiu como um sussurro.  Eu... Eu preciso falar com você. Minha voz saiu embargada. Podemos conversar em particular? Questionei, mas então Nicholas entrou na minha frente.

Quando Nicholas se colocou entre Laura e eu, uma mistura de indignação e desespero tomou conta de mim, ele colocou a mão em meu ombro, sua presença apenas intensificando minha irritação. Ela não tem mais nada para conversar com você Daniel. Ele disse com um sorriso arrogante, um suspiro escapou dos meus lábios enquanto eu tentava controlar a avalanche de emoções que ameaçava me consumir.

Nicholas já tinha ido longe demais, sabia que não poderia deixá-lo sair impune por suas palavras e provocações. Nicholas só... Se afasta... Murmurei, minha voz carregada de aviso, mas antes que pudesse reagir, o primeiro soco voou, acertando-o em cheio, ele cambaleou para trás, mas não caiu, sabia que precisava continuar, que não poderia permitir que ele se recuperasse.

Sem dar espaço desferi outro soco, desta vez com mais força, Nicholas perdeu o equilíbrio e caiu no chão, não hesitei e subi sobre ele, meu punhos golpeando incessantemente, alimentados pela raiva e pela dor que pulsavam em meu peito, cada soco era uma liberação, uma maneira de canalizar toda a frustração e tristeza que havia acumulado nos últimos dias, Nicholas tentou se defender, mas eu não dei espaço para que ele revidasse, meus punhos voavam com fúria, cada golpe ecoando pelo corredor vazio.

Acordo nos braços de Laura e, por um instante, tudo parece desfocado, como se eu estivesse preso em um sonho, sem me lembrar exatamente o que havia acontecido, olhei nos olhos preocupados de Laura, me encarando, por um segundo senti um alívio mas logo a realidade cruel me atinge, pesada e implacável, embora sentisse um alívio por tê-la ali, também sentia junto a angústia por saber que havia perdido a garota mais incrível do mundo, a culpa em meu peito é avassaladora, uma chama ardente que queima mais intensamente a cada momento que passa.

Me levanto com dificuldade, os músculos tensos, a mente turva com os eventos recentes, minha última memória era de Nicholas revidando meus socos, mas após isso, eu já não me lembrava de nada, ao me sentar lanço um olhar na direção de Laura, que questiona se estou bem, apenas balanço a cabeça afirmativamente, mas era como se cada batida do meu coração ecoasse do meu próprio arrependimento. Laura... Eu... Eu sinto muito. Minha voz sai rouca, carregada de pesar. Perdi o controle com Nicholas... E sei que agi de forma impulsiva e irresponsável.

Encaro Laura, a ideia de vê-la nos braços de outra pessoa era insuportável, quase uma dor física, mas eu não tinha direito de agir daquela maneira, não quando eu mesmo tinha tantas falhas e a magoado tanto. Eu... Olhei nos olhos dela em busca de perdão, de uma centelha de compreensão em meio ao caos que se instaurou entre nós. Não há desculpas para o que fiz... Eu sei que as coisas parecem terríveis, mas preciso que você entenda que não aconteceu como Pirraça ou qualquer um possa ter contado. Cada palavra parece um peso sobre meus ombros, uma lembrança dolorosa do que eu deixei escapar por entre meus dedos.

Sinto um nó se formar em minha garganta, a voz trêmula. Ela... Ela avançou sobre mim e me beijou, mas eu me afastei.... Laura, você é tudo para mim e o que aconteceu com Anastasia foi um erro, mas não foi culpa minha... Você sempre esteve presente em minha mente. Meus olhos imploram por compreensão, por uma chance de redenção em seus olhos. Eu te amo mais do que qualquer coisa neste mundo e farei o que for preciso para reconquistar sua confiança e seu amor... Por favor acredite em mim. Minha mão estende-se em sua direção, tremendo ligeiramente, buscando tocar sua face.