Quarto

O quarto estava iluminado pela suave luz da manhã quando entrei, trazendo comigo uma bandeja repleta de café da manhã cuidadosamente preparado, Ethan estava tranquilo em seu berço, um rápido olhar confirmou que tudo estava bem com ele, mas minha atenção estava voltada para Emily, que descansava sob os lençóis.

Abri as cortinas, deixando que os raios de sol dançassem pelo quarto e me sentei ao lado dela, depositando a bandeja com carinho, dei um beijo suave em seu rosto, beijo que a despertou a despertou e, à medida que seus olhos se encontravam com os meus, eu servia o café. Como está? Perguntei, a pergunta carregada de significado além do estado matinal, queria saber sobre ela, sobre nós, sobre Aaron, as palavras não precisavam ser ditas para que entendêssemos a situação.

Emily desviou o olhar, um sinal silencioso de que ainda não havia enfrentado a conversa necessária com Aaron. Sabe que ignorar o garoto vai ser pior, não sabe? Comentei, consciente de que a evasão só prolongaria a agonia, inclinei a cabeça levemente na direção do calendário. As aulas se encerram em breve... E desta vez ele não poderá permanecer em Hogwarts como nos demais feriados. Um gole do café proporcionou um breve intervalo de silêncio, então voltei a observar minha esposa.



Robert - Emily - Laura - Lillian - Aaron

Observo Emily enquanto ela compartilha a complexidade de sua situação, ela comenta sobre a necessidade de pensar bem antes de conversar com Aaron, temendo piorar as coisas. Não teria como piorar, a pior parte foi quem você escolheu como pai. Comento, dando um gole no café, um sorriso discreto se forma em meus lábios, respiro fundo, ponderando se deveria conversar diretamente com Aaron, mas percebo que talvez isso só complique ainda mais as coisas.

Me desculpa por ter escondido tudo de você. Eu pensei tantas vezes em te contar, mas eu sempre tive medo que você... que você se decepcionasse comigo. Parasse de me amar,... Diz Emily, baixando o olhar para a xícara de café, a encaro e sorrio. Eu jamais deixaria de amar você, Emily. Muito menos por uma coisa dessas. Eu sei que você nunca quis isso e que sua mãe deve ter... Minha fala é interrompida quando Emily diz que não foi sua mãe quem decidiu, mas ela mesma, desvio o olhar rapidamente, era mais complicado do que eu imaginava, e levo um tempo para assimilar tudo, finalmente, encaro Emily.

Compreendo que fez escolhas complicadas no passado... Digo calmamente, sabendo que eu mesmo não poderia julgar escolhas erradas, dado o meu próprio passado, porém continuo firme. Mas agora tem que assumir seus erros e consertar as coisas se decidir que quer conviver com esse garoto. Meu olhar é sério, o que Emily decidisse, como marido, eu apoiaria, mas ela precisava estar ciente das consequências, e uma delas poderia ser perder Aaron para Adrien. Tenho que trabalhar agora. Tente pensar no assunto com calma e clareza... Digo dando um beijo na testa dela antes de sair do quarto.



Robert - Emily - Laura - Lillian - Aaron

Entrei em casa exausto do trabalho, havia ficado tanto tempo no Ministério, tantas viradas de noite que, sinceramente, não conseguia me recordar se estivera em casa algum dia desde que Emily retornara para Hogwarts, mas eu sabia que havia um motivo para aquilo e o motivo estava bem ali, pendurado pelas paredes, retratos, aos montes, da família completa, suspirei, havia me prometido que não me deixaria cair novamente, por isso respirei fundo e ergui a cabeça, entrando na casa com passos pesados, arremessando a chave na mesa de centro da sala, enquanto fechava a porta com um aceno de mão.

Então parei e encarei minha mão, soltando um pequeno sorriso, minha magia funcionava perfeitamente naquele momento, embora falhasse de tempos em tempos, quase sempre após a dor, depois olhei ao redor novamente, o silêncio era ensurdecedor, apenas quebrado pelo som distante do vento batendo contra as janelas, com Emily e as crianças em Hogwarts a casa parecia um mausoléu. Desviei meus olhos para os móveis, cobertos de poeira, então soltei um suspiro. Kronos! A voz saiu como uma ordem e poucos segundos depois um elfo doméstico surgiu, me encarando e se curvando. Mestre. O encarei, o elfo, em particular, não era originalmente meu, tampouco dos Winchester ou Watsgrint.

Claro, Emily tinha uma elfo doméstica, na verdade os Watsgrint tinham uma que os servira nos últimos séculos, mas normalmente ela a acompanhava para Hogwarts, algo que eu não me importava nem um pouco, a elfa doméstica dos Watsgrint era um saco, raramente me obedecia, salvo apenas quando Emily estava próxima, por isso preferia que ela seguisse sua mestra. Kronos, por outro lado, era um elfo que servia, basicamente, somente à mim. Limpe a casa e depois pode retornar para onde quer que você estivesse. Disse com calma, Kronos rapidamente começou a limpeza. Eu não gostava da ideia de ter um elfo doméstico, mas Kronos era uma exceção, não por desejo meu, e sim por Victor. Quando morrera Victor havia deixado todos os seus pertences em meu nome, o que era uma fortuna considerável, principalmente quando se levava em conta que ele era o único herdeiro de um clã inteiro, os Blackheart.

Obviamente eu jamais usara a fortuna, tampouco mexera com as propriedades, na verdade deixara tudo a cargo de Kronos, que era o elfo dos Blackheart, mais propriamente de Victor, um elfo leal em um nível quase absoluto, de maneira que mesmo recebendo a liberdade por minhas mãos decidira cumprir o último desejo de Victor, cuidar de mim até que eu o designasse a um de meus herdeiros e, se este herdeiro desejasse, Kronos então teria cumprido sua missão. Apesar daquilo eu raramente usava Kronos, havia deixado ele a cargo de administrar e manter as propriedades de Victor, coisa que ele fazia magistralmente na verdade. Encarei Kronos enquanto ele limpava, rapidamente, tudo, um dia ele seria destinado para minha herdeira, Laura, assim como a fortuna Blackheart, e eu esperava que, esse dia, Laura o libertasse. Soltei um suspiro e caminhei para o quarto, precisava de um banho quente e de uma cama decente para dormir.

Enquanto me deitava, a exaustão me dominou de modo que logo caí em um sono profundo. Assim que meus olhos se fecharam os abri novamente, a luz clara, forte e brilhante, queimando levemente minha visão, levei a mão até a altura dos olhos, para evitar um pouco a luz, minha vista se acostumando ao ambiente lentamente, então  aos poucos, fui reconhecendo o lugar, ali eram os jardins de Salazar, um lugar que descobrira em Hogwarts quando era jovem e que mudara completamente minha vida. Levei a mão até a varinha, mas ela não se encontrava ali, fechei a cara, como eu chegara ali.

Olhei rapidamente ao redor e então avistei ela, Circe, o Basilisco que eu controlara por alguns anos até que a ligação que tinha com a serpente fora cortada. É impossível... Murmurei me aproximando, Circe estava tão magnifica quanto no dia em que a conexão se perdera, em meio à Batalha de hogwarts, seus olhos fechados, assim como eu ordenava que ela permanecesse em minha presença, enquanto me aproximava, sentindo uma euforia em meu peito, notei alguém ao lado dela, uma figura estava parada, uma sombra escura que parecia um jovem, mas era impossível ver ou reconhecer seu rosto.

Aí está você! A figura falou comigo, com uma voz calma e profunda, uma voz estranhamente conhecida. Você demorou mais do que previ... E agora seu tempo já passou... Ela dizia, enquanto se virava em minha direção, a sombra tomava forma, suas vestes se tornavam lentamente reconhecíveis, ela vestia o uniforme de Hogwarts. Um novo nome surgirá em breve... Circe se curvará a outro mestre... E esse mestre poderá repetir o passado ou moldar outro destino... Cada vez mais a sombra ganhava forma, cada vez mais sua voz se tornava familiar.

Então a sombra ergueu a mão e eu parei de me mover, ela segurava uma varinha, minha varinha, fechei a cara, se me movesse rapidamente poderia alcançá-la e mudar o jogo, mas a forma gargalhou, uma gargalhada arrogante que ecoou pelos jardins. Acha mesmo que pode fazer isso? Me vencer? A sombra então tomou forma completa, a varinha apontada para mim em uma das mãos, a adaga que Jack matara Patrícia em outra, as vestes da Sonserina e um sorriso de quem se acha superior. Somos um Robert Slytherin Winchester... Mas eu sou a versão superior de você. Os olhos brilhavam com arrogãncia, o que me fez pensar em como eu devia ser insuportável na juventude.

E agora? Duelamos? A sombra gargalhou novamente. Não... Agora você escuta... E compreende que apenas o verdadeiro herdeiro de Salazar terá o poder de controla-la... O mestre do passado não se repetirá. O jovem Robert proclamou com um sorriso frio. O sangue de Salazar, o sangue novo, moldará a nova história... Soltei um sorriso arrogante. E se eu decidir impedir isso?O jovem Robert sorriu e então sibilou algo apra Circe, algo que, pela primeira vez na vida desde que dominara a Ofidioglossia, eu não fora capaz de compreender. O passado está morto... O futuro pertence àqueles que dominam o presente. Ele concluiu e então Circe se virou para mim, abrindo os olhos.

Acordei assustado, minha cama molhada de suor, olhei rapidamente ao redor enquanto pegava a varinha na cabeceira da cama, mas eu estava sozinho, minha respiração era pesada, ofegante, de alguma maneira eu sabia que aquilo não fora um simples sonho, fora uma profecia, algo que deveria ser impossível uma vez que não era uma habilidade que eu possuía. Me levantei da cama e caminhei até o banheiro, jogando água fria no rosto. Merda. Se eu tivera uma profecia aquilo significava algo ruim, não era um profecia qualquer e sim uma profecia de sangue. Merda. Não havia como parar aquilo, se eu tentasse me envolver eu certamente morreria, e tinha uma herdeira que eu tinha que proteger, Laura.



Robert - Emily - Laura - Lillian - Aaron - Edward