Entrada

As coisas haviam saído de meu controle após ter tido Astrid. Era como se tudo o que eu queria antes, o controle do mundo bruxo a ascensão dos comensais, o poder que eu havia realmente adquirido para mim tivesse perdido completamente o sentido ao ter minha filha com Eliot.

Ele há muito tempo já estava tomando decisões mais sabias que as minhas, e eu sabia que com o passar do tempo em que Astrid crescia eu fora irresponsável com aqueles que me juraram lealdade e havia feito o mesmo, se não pior que Nathalie para com aqueles que estavam junto a mim. Os havia abandonado por algo puramente pessoal.

Fazia alguns dias desde a ultima vez que vira Eliot em casa, ele estava ocupado cuidando, agora, de forma integral dos assuntos relacionados aos comensais enquanto eu estava de forma integral em casa cuidando de Astrid, prestes a completar um ano.

Eu sentia que faltava algumas coisas durante os meus dias. Como se me esquecesse do que havia feito, do que havia acontecido em certos períodos, períodos os quais eu tinha certeza de que não passara dormindo.

Escuto o choro de Astrid soar pela casa, e em questão de segundos apareço em seu quarto. Sinto o ambiente pesado no momento em que passo pela como se uma escuridão estivesse prevalecendo e por um segundo sinto uma sombra humana se formar logo atras de meu corpo. “queime”. Já fazia algum tempo que a sombra aparecia para mim, aprendera a ignorar o fato de a sombra apenas se tornar presente, mas quando começara a se comunicar era como se estivéssemos conectadas, era como se mais uma vez Nathalie estivesse presente e agora em minha cabeça, e suas palavras soltas ou frases ficassem em meu subconsciente para serem entendidas em algum momento, mas não conseguia entender o que ela queria dizer apenas com a palavra queime, no ultimo mês era a única coisa que ela falava ao aparecer. Até hoje, quando pela primeira vez ela completara a frase “queime a casa Lilith”.

Quando finalmente abro meus olhos estou em frente a casa que Eliot havia comprado para nós dois, o laranja quente invade meus olhos, as labaredas cada vez mais altas tomavam conta do que hoje agora não passaria de ruinas. Saio de meu transe quando sinto meus ombros serem chacoalhados e um Eliot desesperado aparece em meu campo de visão trazendo me a sanidade e então percebo que nossa casa esta em chamas. – LILITH ONDE ESTA ASTRID? – a voz penetra meus ouvidos da mesma forma que o terror invade meus pensamentos. Meus olhos em choque encontram os de Eliot. Mas não consigo formular mais nenhuma frase. Volto a olhar as labaredas altas. Astrid ainda estava dentro da casa. Assim como nosso Elfo.

Não consigo me mexer do momento em que escuto Eliot chamar por mim, perguntar por nossa filha e desaparecer em meio as chamas. Tudo na minha cabeça é como um borrão até o momento que ele aparata com Astrid em seu colo.

Dou um passo em sua direção ao perceber que Astrid não respirava. - SAI DE PERTO! – sua voz ressoa por todos os cantos possíveis de meu cérebro e dou mais alguns passos me afastando dele. Vejo-o salvando a vida de Astrid e seu tórax voltando a ter movimentos de alguém que esta respirando enquanto tosse para expelir os resíduos do incêndio de seu corpo.

Enxugo algumas lagrimas de meu rosto ao perceber o que eu havia feito. Ateado fogo em nossa casa com Astrid dentro, por causa de uma voz em minha cabeça. Ninguém poderia saber daquilo, nem mesmo Eliot poderia saber. Começo a me aproximar novamente dos dois, com o intuito de pegar Astrid em meus braços e me certificar de que eu não havia feito nada a ela, nada de pior. – Oh meu amor – consigo ver seus olhos cheios de lagrimas, e o nariz vermelho pela força que fazia para conseguir respirar.

Eliot se afasta conforme eu vou me aproximando. Baixo os meus braços que estavam levantados para pegá-la. E eu olho perdida quando ele me pergunta o que havia acontecido. Eu me lembrava de tudo que havia feito, desde estar no quarto de Astrid pois ela estava chorando, e então o elfo no quarto tentando acalmar a criança até o momento que cheguei. A sombra me rondando, pousando a escuridão em meus ombros.

Olho para minha mão, desviando o meu rosto do olhar acusatório de Eliot. Percebo uma linha negra começar a se desenhar em meu pulso, a mesma linha que se formara quando fizera o voto perpétuo com Nathalie. – eu – começo a falar, mas sinto um nó em minha garganta. – eu não sei como isso aconteceu... eu estava com Astrid no quarto, ela estava chorando, o elfo estava com ela tentando a acalmá-la. Eu acordei com você em minha frente gritando por Astrid. O elfo não estava comigo, nem ela – viro de costas para Eliot, não suportaria mais omitir qualquer coisa dele. Acabaria revelando mais do que podia. Ele me mataria se soubesse que fantasmas das minhas más escolhas agora põem em perigo não só a nós dois, mas nossa filha. – Você precisa levar ela – eu digo me virando para Eliot novamente, dessa vez enxugado as diversas lagrimas que escorreram. – Para a vila. – passo a mão por meu vestido enquanto o escuto voltar a falar.